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Olá, eu sou a Ana, mãe de 2 pequenos, professora e exploradora do Método Montessori em casa e na escola. Sê bem-vind@ ao meu blog ❤️

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Montessori no 1o ciclo: como começou, como funciona na nossa sala 💐🌹🌺🌷🥀🌻🍁🌾🌍🌎🌏🔭

Como começou esta viagem de tentar implementar Montessori na minha vida de professora do 1.o ciclo do ensino público...

Esta viagem dura desde que fui mãe e que, como tanta gente, cheguei a Montessori na procura dum quarto para o meu bebé. 🥰

Daí fui percebendo a importância da liberdade na formação da criança. Lendo os livros de Maria Montessori foi impossível não reconhecer que a postura da escola tradicional que ela criticava no início do século XX pouco havia mudado até hoje. Ao mesmo tempo fui muito inspirada pelo filme "Maria Montessori: una vita per i bambini" , principalmente porque na altura trabalhava precisamente com crianças em Unidades de Multideficiência, e esse filme marcou-me muito, muito.

Para o meu filho comecei a tentar seguir o que ia aprendendo com os livros de Maria Montessori, assim como lendo em alguns blogs (Montessori en Casa, Tigriteando foram os 1os e trouxeram logo um montão de inspirações! )

Aplicando o que ia aprendendo em casa, apercebi-me que realmente, a infância é como Maria Montessori a via: cheia de esperança, com um Guia Interior que permite à criança desenvolver-se perfeitamente sem ajudas desnecessárias, com fases de desenvolvimento bem definidas e, acima de tudo, janelas de oportunidade bem fortes (Maria chama-lhes os períodos sensíveis).

Embora as neurociências reconheçam a plasticidade do cérebro e por isso, a sua capacidade de aprendizagem ao longo da vida, as suas descobertas também indicam que o interesse e a emoção são os maiores motores da aprendizagem e permitem uma construção mais sólida da mesma, e que não há aprendizagem plena se as bases não estiverem bem estabelecidas. Conhecer os períodos sensíveis, juntando a observação da criança e construindo de um modo harmonioso a nossa relação com a mesma, torna-se mais fácil perceber e determinar em que fase de desenvolvimento esta se encontra e ajudar ao seu desenvolvimento integral libertando-a de obstáculos desnecessários (sendo que por vezes são os adultos esse obstáculo). Ninguém aqui quer dizer que temos de evitar e impedir que eles falhem, mas sim facilitar a aprendizagem com a consciência de que errar é humano e que os erros também nos ajudam a aprender. Maria Montessori integra também o conceito de auto-aprendizagem, que é algo pleno na infância, mas o seu génio criou vários materiais e atividades a eles ligadas de modo a que a criança possa continuar a descobrir, explorar e aprender por si temas e áreas do seu interesse e adequadas ao período sensível em que esta se encontra.

Bem, não me vou alongar na descrição do Método, recomendo apenas a leitura dos seus livros "Mente Absorvente", "A Criança" e "Pedagogia Científica", todos de Maria Montessori.

Agora a aplicação na escola:

Entretanto, deixei as Unidades de Multideficiência e passei a dar Apoio Educativo no 1o ciclo. As primeiras medidas que tomei com os meus grupos foram:
- liberdade de ir à casa-de-banho quando precisarem sem necessidade de pedir - crianças sabem quando precisam de ir, e realmente é uma diminuição das mesmas exigir que peçam para fazer uma necessidade básica - único apontamento importante: a criança só pode ir se a casa-de-banho estiver vazia, ou seja, deve olhar em volta e ver se falta alguém na sala. Se faltar deve esperar pelo regresso do outro. Isto dá-lhes também a noção de responsabilidade - se eu demorar muito, posso estar a prejudicar um amigo. Claro que nada é hiper rígido, se a criança estiver aflita pode ir, avisando apenas que será a 2a pessoa a ir. Eles interiorizam isto mt bem, e cumprem tb.
- liberdade para comer se tiverem fome, e beber também.
- liberdade para escolher de entre alguns materiais que eu levava comigo  (na altura, dentro de uma cesta) para fazer após terminar as atividades estipuladas (por mim ou pela professora da turma, dependendo das decisões de cada titular).

Verdade que estes alunos não eram só meus alunos, pelo que não me pude alongar com muitas medidas. Mas rapidamente pude observar que eles respeitavam muito bem estas indicações e que a nossa relação pessoal tornava-se mais positiva e respeituosa porque estas necessidades eram respeitadas. Durante um ano que foi assim, só uma vez falharam com a sua responsabilidade (crianças são crianças ;) ), as falhas foram conversadas e tudo voltou a correr bem.
Por norma as docentes dos grupos que me permitiram alguma flexibilidade no trabalho desenvolvido com os seus alunos notaram melhorias nas crianças, maior motivação para a aprendizagem, melhorias na auto-estima e na relação com a escola e as crianças mais felizes. Nos restantes grupos (com quem passava também menos tempo, e por isso o trabalho tinha de ser mais direcionado pela professora da turma) os resultados não foram tão positivos, embora a relação com as crianças fosse positiva. Isso permitiu-me tirar algumas conclusões.

Um ano passou, em que me dediquei à gravidez da minha pequenina e seus primeiros meses, ao meu pequeno na altura com 2 anos, e à aquisição de mais informação sobre Montessori, na internet, nos livros, em formações ( foi nesta altura que fiz a Formação de Assistente Montessori com a fantástica guia Montessori Guadalupe Borbolla através da Associação Portuguesa Montessori sob a gestão de Joana Rebelo da Escola Montessori do Porto, momento que me foi fundamental para entender a importância da observação da criança e descobrir os seus interesses/necessidades).

Quando voltei  à escola, fiquei então, pela primeira vez em anos, novamente responsável por uma turma. No entanto, uma turma de 3 anos de escolaridade e entre estas crianças, alunos com medidas de aprendizagem diferenciadas. Apercebi-me que, numa realidade assim, só mesmo o Método Montessori me poderia ajudar. É necessário saber fazer apresentações simples e eficazes, rápidas e precisas, de modo a permitir a compreensão do objetivo de ensino duma forma intuitiva e o mais eficaz possível, permitindo também à criança voltar ao material e à apresentação de forma autónoma para que possa repetir as vezes necessárias até este ficar bem adquirido.

Pode parecer fácil, dito assim, mas não é, lol! No entanto, tive a sorte de ficar nesta escolinha de aldeia com salas de uma área fantástica e adequada ao número de crianças da turma e muitos materiais que me foi dito que eram do tempo da tele-escola! Verdade ou não (alguns são materiais algo recentes, e uma caixa deles indicava que foram comprados aquando as formações do PNEP e Formações de Matemática - formações que fiz e me deram boas bases para um programa de aprendizagem pela descoberta e experimentação - antes de Crato), a 1a coisa que fui fazendo (isto quando as aulas já tinham começado) foi ir retirando os materiais de dentro dos armários e colocá-los em cima de mesas à disposição dos alunos. Também trouxe os que usava com os meus alunos de apoio educativo (construí e comprei uma boa base de materiais nessa altura), e também os coloquei nas mesas. Não muitos, porque tinha medo do caos, e também porque precisava de ver se tinha alunos que os podiam "fazer desaparecer".

Nada de mau aconteceu, e muito de bom aconteceu. Tão bom, que me rendi e tirei mais materiais, fui criando, comprando e transformando guiões de exploração de base Montessori (não consegui fazer muitos devido a uma carga horária carregada de burocracias, mas quando conseguia fazia :p).

A nossa forma de trabalho inicial não teve ainda grandes apresentações de materiais, mas apenas uma exploração sensorial e livre dos mesmos, porque eu ainda estava a tentar ver as crianças que tinha à minha frente e como as poderia orientar. Durante a manhã trabalhávamos com os manuais e cadernos, e no fim dos trabalhos eles iam para o espaço no fundo da sala explorar os materiais.

Os que se revelaram desde cedo os favoritos foram e que se mantiveram favoritos a maior parte do ano letivo:
-figuras geométricas de pavimentação,
-geoplanos,
-sólidos geométricos,
-letras de lixa e tabuleiro de areia,
-listas de palavras,
-transferências com pinças e pipetas,
-experiências com ímans,
-experiências com água e flutua/não flutua,
-observação com lupas de elementos da natureza que recolhiam no recreio e no caminho para a escola,
-dedilhar ocasionalmente a minha guitarra (algo que se foi perdendo ao longo do ano devido provavelmente à falta de tempo para cantarmos mais canções com ela...)

Materiais que não lhes interessaram muito no início, mas que foram ganhando adeptos conforme o ano ia decorrendo:
- Cartões de 3 partes (foi uma surpresa, eles funcionavam muito bem num contexto de apoio educativo, mas assim, não) - penso que, no geral, como os que eu tinha tinham apenas casos de leitura mas nenhum tema específico, tal não lhes surtiu muita curiosidade;
- Cuisenaire (outra surpresa, pois no Apoio Educativo os pequenos adoravam fazer torres com o mesmo) - aqui penso que há uma boa explicação - eu usei o cuisenaire para dar as bases da numeração, formação e decomposição de números com o 1.o ano. Penso que eles não o usaram para torres porque perceberam a sua real função e como tal decidiram não o usar para outro propósito que não esse. No entanto, foi dos materiais mais utilizados ao longo do ano para a realização de contas, contagens, decomposições... ;
- MAB - outro que não interessou muito em momentos livres, mas que foi muito utilizado aquando a realização de exercícios dos manuais.

Bem, tinha alguns materiais, mas não tinha muitos. Ainda fui tentando dar alguma rotação aos mesmos, e a coisa funcionou muito bem no 1o e 2o períodos, no 3o eles já preferiam brincar à casinhas com os materiais do que propriamente utilizá-los para aprendizagem. O que não foi muito mau e fez com que os alunos do 2o ano fossem os melhores na prova de aferição de expressão dramática (porque estavam já habituados a criar, nesses momentos, cenários, histórias e diálogos entre si, utilizando a imaginação também para "transformar" um cubo do milhar numa panela e coisas assim!! Lol!)

No entanto, ainda assim foi complicado dar todo o currículo para todos os anos, pois o mesmo é bastante extenso, com alguns conteúdos, na minha opinião, algo desadequados às respectivas faixas etárias, e a falta de materiais de manipulação e tempo para os concretizar não ajudou nada à aprendizagem desses conceitos.

Ainda assim, considero que foi quase um milagre que muitas das aprendizagens tenham acontecido e hoje, um ano depois, elas continuem efetivas dentro deles. Para mim, esse milagre foi esta aplicação de Montessori na sala de aula, que muito contribuiu para a aprendizagem num contexto tão específico como o nosso.

Este ano, são 4 anos de escolaridade e as mesmas dificuldades, além da turma ter aumentado. E apesar de ter dias em que sinto que fiz uma maratona quando saio de lá, sinto-me bastante mais tranquila por saber que os materiais que temos na nossa sala e a liberdade que eles têm no final das aulas lhes permite aprendizagens efetivas que eu nunca conseguiria dar sozinha!

Entretanto, com o webinar da Seemi Abdulah que assisti no verão e que me deu novas luzes de como organizar e orientar o ambiente na sala de aula de modo a potenciar ainda mais a aprendizagem e a exploração, também me tornei membro do HOKA (Hands On Kids Activities), que é um clube de educadores montessorianos que nos permite trocar experiências, conhecimentos, além de nos permitir adquirir materiais fantásticos todos os meses para ajudar a renovar a motivação na aprendizagem. Ainda me estou a ambientar neste clube e não tenho uma opinião 100 por centro formada, mas para já estou a adorar, e os materiais que preparei até agora têm dado um jeito incrível. A Seemi é guia montessori há vários anos e os materiais que partilha e a época em que faz essa partilha revelam muito conhecimento e experiência com a infância e têm-se revelado muito adequados para esta altura, pelo menos. Acredito que continuarão a fazer partilhas muito úteis.

Quero apenas reforçar que, embora as crianças do 1o ciclo já não se encontrem na fase sensível sensorial como as crianças de 3 a 6 anos montessori (e isso provavelmente explique que alguns materiais Montessori não lhes sejam de tanto interesse já), ainda noto muita sensibilidade por parte dos pequenos do 1o e 2o anos aos mesmos, pelo que se podem usar à vontade com eles, e observar-se esta esta aprendizagem que parece que se entranha neles como por osmose!

Os alunos de 3o e 4o também usam os materiais de matemática, mas está difícil chamá-los para os de português e estudo do meio. Numa análise talvez ainda precoce, penso que os manuais destas 2 áreas estarão ligados a este facto: enquanto que o de português esteja interessante e bonito e eles, por isso, se sintam mais motivados para o manual, o de Estudo do Meio, que tendencialmente é a área favorita das crianças, é um manual maçudo e cheio de texto que os afasta, quase invariavelmente, do desejo de saber mais dele, inclusive dos materiais a ele relacionados. Mas estes continuam a ADORAR fazer experiências!!! :) :) :) No entanto, há outro factor importante: a gente só se interessa por determinados conteúdos se os mesmos de alguma forma nos tocarem diretamente. Então, eu concluo que crianças de interior ganhariam imenso com mais visitas de estudo para se colocarem em contato com as realidades que necessitam de estudar. Em Montessori, o 1o ciclo é recheado de momentos no exterior da escola, em visitas de estudo para conhecer o mundo, os ofícios, e o trabalho de texto, por exemplo, é leitura e análise de textos de jornais e outras notícias do mundo, de modo a ajudar à compreensão do mesmo e do que acontece no mundo real!

Mas aqui, por dificuldades de acesso e de verbas, é algo complicado  ainda a realização destas visitas, e a aldeia contem muito poucos ofícios para visitar e aprender.

Bem, e é esta a minha experiência de Montessori no ensino público. Em pontos e resumindo:

- As crianças têm entre 15 minutos a 1hora por dia de eleição livre de atividades a fazer dentro do nosso ambiente preparado; este tempo pode ocorrer em qualquer altura do dia, está ligado ao ritmo de trabalho dos alunos, à necessidade de dar os conteúdos do programa, tendencialmente acaba por ser no final dos trabalhos, mas quando posso sou flexível quando eles aparentam mais cansaço - e isso acontece porque, relembremos, o programa é extenso e exigente (mesmo com a flexibilidade);
- Nós trabalhamos muito com os manuais porque tal foi muito solicitado pelos pais e eu também ainda não consegui compilar materiais e ficheiros suficientes para conseguir contornar melhor esta situação. Ter os 4 anos de escolaridade implica a criação de muitos materiais e o tempo é escasso para tal;
- O ambiente está, no momento, com materiais que acompanham as aprendizagens do momento e algumas que conto serem as seguintes (em algumas áreas isso é fàcil, como a Matemática, por exemplo, porque sem uma base não se avança para outra). Ou seja, eu tento juntar o máximo de materiais que apoiem os temas do momento e seguintes, e tento que a rotação seja pelo menos por período para os materiais maiores e vou acrescentando ou retirando outros mais pequenos;
- Os materiais estão ao alcance dos alunos a qualquer momento, caso necessitem deles para ajudar à realização de qualquer tarefa;
- Também fazemos trabalho de projeto com outros temas à escolha dos alunos, mas aí recorremos mais a livros, enciclopédias, assim como a materiais artísticos (dependendo dos temas escolhidos);
- Eu diria que, neste momento, 45% dos materiais que tenho na sala de aula são da escola e 55% são meus. No entanto, como muitos comprei a pensar nos meus filhos para fugir aos típicos brinquedos de plástico e ruidosos, e outros fui eu que fui fazendo ao longo destes anos, o valor dispendido não foi gigante, mas também não iludo ninguém dizendo que foi pouco. Neste momento, os livros de histórias que os meus alunos levam para casa para lerem em família são todos meus e devem continuar a ser, não vou entrar em pormenores do porquê, mas qualquer professor provavelmente saberá a razão;

Os maiores obstáculos sentidos... Lol, são tantos! Não querendo desmotivar ninguém, até porque há ambientes educativos mais fáceis que a realidade em que me insiro...
- ao início, os pais desconfiaram um pouco dos materiais e desta liberdade dada às crianças. No entanto, com o tempo foram percebendo que os filhos aprendiam e não estavam a ficar para trás, e que estavam inclusive a construir novos conhecimentos, até mesmo de outros anos (e que tal facilitaria depois o trabalho nesses anos). Além disso, perceberam que os materiais ajudavam as crianças a perceber melhor alguns conteúdos que, por si sós, são difíceis de entender sem os mesmos;
- A burocracia. A burocracia é, de todos os obstáculos, o maior obstáculo de qualquer professor, e acredito que de outros profissionais também. A burocracia é tanta que cansa um professor antes dele ir dar a aula, desmotiva-o, desorienta-o e acredito que isso acaba sempre por também passar para os alunos. Planificações que nos são exigidas mas que, na verdade, raramente vão de encontro com as curiosidades e interesses dos alunos, obrigando-nos a adivinhar em quanto tempo as crianças vão conseguir aprender algo... Bem, é algo totalmente irrealista. As análises constantes de resultados, em que Muito Bons, Bons, Suficientes e Insuficientes definem crianças mas só contam como números (e em nada ajudam às reais aprendizagens na sala de aula). As reuniões intermináveis e que passam tantas vezes para o dia seguinte. Os relatórios. Os currículos alternativos com medidas. Os documentos internos. Os 1500 projetos que nos entram pelo email adentro. E a constante falta de tempo para fazer tudo, o que nos torna tantas vezes indisponíveis para depois estar com os alunos, com os Encarregados de Educação, com os colegas, já para não falar em família e amigos. Bem, mas este é comum a todos os professores.
- Outro obstáculo é a nem sempre compreensão por parte de colegas e até direções de Agrupamentos acerca do nosso trabalho, mas nesta realidade isso também se prende ao facto de todas as escolas serem tão longe umas das outras. O isolamento pedagógico é uma realidade.
- A importância de se dar o currículo neste momento, com esta visão de flexibilidade curricular do Ministério da Educação, está mais a favor da aplicação de Montessori na escola, mas o facto de ter 4 anos de escolaridade e ainda ter as provas de aferição do 2o ano... Como tenho 2o ano sempre, estamos sempre em stress porque todos os anos temos provas, lol! E como nunca se sabe o que sai nestas provas a nível do currículo (o que é, afinal, obrigatório e o que é que pode ser regional, e afinal o que é que sai na prova mesmo???), eu nunca sei muito bem como direcionar os miúdos e ambiente para termos sucesso. Juntando a isto a imaturidade das crianças, a meu ver, para estas provas ( peço desculpa, eu realmente estou contente com esta visão do Ministério da Educação em relação à Flexibilidade Curricular, mas estas provas são um obstáculo enorme numa realidade como a minha, pois todos exigem resultados e estamos todos os anos sob pressão)
- Nenhum computador na escola funciona (o que na era digital faz alguma falta, principalmente para investigar para os projetos, ou assumir uma postura mais Montessori no 1o ciclo, que seria a análise de notícias do dia, observações críticas das mesmas, discussão de assuntos...)

Bem, o que vale é que 3 destes 5 maiores obstáculos podem ser mais facilmente contornáveis para outros professores noutras realidades educativas que não esta.

Das maiores vantagens que sinto desta abordagem Montessori na escola, e são mesmo muitas:
- Os miúdos aprendem quase que por osmose;
- Os materiais ajudam imenso à compreensão de conteúdos muito abstratos;
- A liberdade de escolha favorece a autonomia, a auto-regulação, o auto-conhecimento, a descoberta de gostos pessoais e novos gostos, as relações entre as crianças, a criatividade, a criação de novas aprendizagens (que estão como que escondidas dentro de um material, ou seja, um material tem uma aprendizagem direta, mas depois há muitas aprendizagens que se vão fazer por analogia, além da criatividade de encontrar novas utilizações para materiais... Há todo um mundo dentro dos materiais que vai permitir à criança descobertas que um professor ou manual nunca lá chegariam);
- A relação professor-alunos é muito melhor quando todos se sentem respeitados, e o adulto torna-se um líder naturalmente, sem ser necessário forçar. Não digo que seja tudo perfeito, porque as crianças vêm de ambientes escolares e familiares diferentes e por isso, este processo leva, por vezes, mais tempo a formar-se. Mas quando lá chegamos, este respeito com carinho torna-se muito efetivo.
- Pode-nos parecer estranho, a nós que vimos duma realidade em que sempre tivemos de trabalhar muito e repetir muito para realmente aprender, mas eles realmente aprendem muito bem neste ambiente;
- Esta realidade escolar deixa os miúdos felizes! :)

Bem, sinto que ainda não está tudo, tem acontecido tanto de bom com este meu grupo, e os momentos de descoberta têm sido tantos e tão positivos, que eu só quero continuar a ver o que acontece. <3

Editado só para acrescentar que uma grande inspiração para este processo foi o artigo do Lar Montessori "Como levar Montessori para a Escola Convencional", escrito pelo Gabriel Salomão, assim como o entusiasmo e aplicação da docente espanhola Vanessa Cano, que aplicou montessori na sua sala de aula de uma forma inspiradora, visitem o seu trabalho em: Colegio Platero Marbella.
<3




domingo, 6 de outubro de 2019

O ano, os seus meses e dias, as estações...

E tudo o que daqui possa vir pelas questões e curiosidades de cada criança.
Esta semana que passou teve este momento assim, que ficou no chão mais 4 dias até ser arrumado nas estantes.
Os pequenos foram ver, tocaram, tiraram, voltaram a pôr, sentaram-se em volta com outros jogos e materiais...

O Outono é maravilhoso e aprender assim torna tudo muito mais interessante :)
Aqui temos conteúdos do 1o ano - Outono, noção de passar do tempo (fiz logo a relação aos aniversários Montessori e às suas idades e voltas que o nosso planeta já deu à volta do sol desde que eles nasceram - adoraram :) ), observação dos estados climáticos, cores do Outono, seus frutos...; conteúdos do 2o ano - o ano, os meses do ano, o calendário, o número de dias de cada mês, porque fevereiro tem 29 dias de 4 em 4 anos, as estações...; Conteúdos do 3o ano - Rotação e Translação da Terra, calendário... Conteúdos do 4o ano - os mesmo do 3o mais as fases da Lua.
É assim que eu tento interligar tudo no que, tantas vezes, parece impossível de dar. Um grupo de 4 anos de escolaridade significa estar sempre a rodar dum lado para o outro, sempre a explicar, sempre a orientar, sempre a ajudar aqueles que precisam. E são momentos assim que unem a turma, por isso, no nosso caso, estes momentos são muito importantes.
Cartões da Katherine do blog I believe in Montessori.

Entretanto, plantamos as plantas da época:
Este projeto foi iniciado ano passado, e conseguimos mantê-lo graças a uma mãe e mais dois elementos da comunidade que nos envolve. Estas senhoras têm sido fantásticas para a escola e têm permitido às crianças vivências muito concretas e importantes para a sua formação e que combinam perfeitamente com o modo montessoriano que procuro dar à nossa escola. Aproveitem sempre as pessoas que estiverem disponíveis à vossa volta. E não liguem a outras vozes que possam surgir contra. Estes projetos são de grande valor e aproximam as pessoas e as crianças, alimentando uma maior empatia e segurança nas mesmas, além de todas as aprendizagens que daqui advém!
Daqui os pequenos estão a aprender quais as plantas a cultivar em cada estação, como cuidar delas, além de estarmos a fazer registos periódicos do seu crescimento, do períodos de vida de cada uma, além de provarmos os seus produtos. Calculamos áreas e perímetros dos espaços que estamos a criar para a nossa horta, procuramos as melhores soluções. E aprendemos ao ar livre. <3

Entretanto, dentro da sala de aula:
Sequências de imagens, contar a história, o esquilo, esse grande plantador de árvores, puzzle e ciclo de vida. Cartões do blog Welcome to Mommyhood.
Sugestões de Outono para plasticina, do pack de Outono (que eu acho delicioso e agora está espalhado pela nossa sala e casa) do blog Pinay Homeschooler. Treinar também assim os números e as quantidades (que ainda estão em consolidação)
Colorir as folhas do blog Green Urban Mama.
Após a aula da semana passada em que fizemos a experiência do vulcão, esta esta semana esta foi, sem dúvida, a mais requisitada pelas crianças. Os materiais estavam dentro dos frasquinhos na foto, com o nome dos seus componentes e a ordem com que deviam ser colocados :) Os pequenos adoraram, claro!
Entretanto, estes cartões vieram adicionar informação contextualizada e talvez semear sementinhas de curiosidade. São da Yuliya do blog Welcome to Mommyhood, estou muito fã dos materiais dela :)


<3