A resposta mais correta provavelmente centra-se em: depende da criança, depende da idade, depende dos interesses e, provavelmente, depende da família, da disponibilidade que esta tem para rodar os livros, para os ler, etc, etc, etc.
Na nossa família, é pouco o tempo para grandes alterações de estantes, livros, etc. Então, talvez seja por isso que cada vez mais dou menos valor às estantes temáticas e a livros todos do mesmo tema.
É certo, nós gostamos de ver as estantes com temas, na verdade acredito que ajudam as crianças a organizar ideias, a segmentar conhecimentos, mas... Será mesmo assim que aprendemos?
Na minha observação dos meus alunos do 1o ciclo, a diversidade de curiosidades raramente são simples ao ponto de dar para fazer estantes temáticas. Claro que as faço, de acordo com os conteúdos curriculares que ainda tenho de trabalhar. Mas os interesses destes gaiatos são tão variados que precisaria de fazer uma estante para cada um, lol! Mas bem, eles estão no 2o Plano de Desenvolvimento, pelo que processam o mundo de outra forma!
Mas será que em casa é muito diferente? Ambos os meus filhotes passaram bem sem estantes temáticas até aos 3 anos. Depois nota-se bem uma certa explosão de curiosidades, interesses, diferentes necessidades. Daí que as estantes temáticas parecem boa ideia, porque assim aprofunda-se um pouco mais um dado tema. Mas desde que o mais velho fez os 5 anos, parece que as estantes temáticas são mais obstáculos que aprendizagem: já vos aconteceu eles pedirem exatamente por livros/materiais/brinquedos que não estão na estante? Que até já estão guardados há algum tempo, há mais de 2 ou 3 rotações de materiais atrás?
Cá em casa isso acontece muito. Foi por isso que comecei por deixar de escolher apenas livros temáticos para a biblioteca deles. Conforme os temas vão rodando (quando conseguimos ter realmente temas 🤪🤪🤪), os livros mantém-se na biblioteca. Inicialmente mantenho os livros temáticos nas estantes temáticas, mas estes acabam sempre por ir para à biblioteca (eles levam para lá, de tanto saberem que o lugar deles é nela ☺️☺️☺️ )
E quando os livros começam a deixar de despertar interesse, troco por outros que tenho guardados.
Foi este post da Nicole Kavanaugh que me fez despertar para esta ideia. E se repararmos bem, é raro também a Nicole ter estantes temáticas. Ela flui muito em volta dos interesses dos seus 4 filhos, e para quem tem mais que uma criança em casa, pode ser uma grande ajuda para compreender que tais estantes e apenas livros temáticos NÃO SÃO nem obrigatórios, nem necessariamente Montessori.
Montessori é ir de encontro com a criança. Às vezes, uma boa história oral de como a mãe e o tio brincavam quando eram pequenos, as aventuras vividas na infância desses tempos, histórias de como eles eram quando eram bebés ou então pequenos contos orais sobre animais e seus ciclos são suficientemente adequadas para trabalhar certos temas ou simplesmente ir de encontro a curiosidades - principalmente pelos 5 anos, pelo que estou a ver.
Claro que Montessori é também dar suficiente realidade para a aprendizagem de alguns conceitos/ideias que os pequenos procuram, e isso consegue-se através dos materiais e livros. Os temas ajudam a interligar tudo mas, mais uma vez, não é fundamental fazer tudo pandam 🙂 Vida real é bem diferente que as fotos do Instagram e outras equivalentes. Não ter tempo nem dinheiro para fazer estantes super lindas não é obstáculo para fazer Montessori em Casa.
Nas alturas mais atarefadas, já fico feliz quando eles ajudam a lavar e a cortar legumes ou fruta para uma refeição, lavar os seu prato, quando ajudam a pôr a roupa a lavar e a secar, quando até arrumam algumas peças nos seus armários e lavam os dentes sem eu ter de andar atrás deles para isso. E procuram livros. Os livros trazem-nos mundos. Então, variedade traz-nos mais mundos do que muito sobre o mesmo.
E é aqui que também insiro a ideia de que também não é errado ter livros não-Montessori na estante. Embora tenha seguido mais as orientações montessorianas para os primeiros anos de vida dos meus filhos, conforme eles vão fazendo uma melhor distinção entre realidade e fantasia, não resisti a colocar na estante outros livros com boas mensagens. Porque, quem realmente resiste à mensagem deliciosa do "Adivinha quanto eu gosto de ti"??? E ao belíssimo ratinho poeta "Frederico"?
Estes livros não montessorianos porque os animais falam ajudam ainda a realizar aquele diálogo que vamos ter muitas vezes nesta fase dos nossos filhos: "Sabes que os animais não falam, não sabes? A nossa cadela não fala, as nossas gatas não falam... Então, os animais falarem é uma fantasia, que podemos imaginar com a nossa imaginação. Mas não é real! A parte boa é que, com a imaginação, podemos imaginar coisas que podem não acontecer e isso ser muito divertido!" - e daqui iremos para o - "Sabes que este filme não é real, não sabes? Estas pessoas são atores que fazem este filme, para que as pessoas se descontraiam ao vê-lo, mas ele não aconteceu realmente. É a imaginação das pessoas que nos faz fazer estes filmes, estas histórias, para ser divertido assistir..." - e assim sucessivamente :)
Até breve,
Ana
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