Acerca de mim

A minha foto
Olá, eu sou a Ana, mãe de 2 pequenos, professora e exploradora do Método Montessori em casa e na escola. Sê bem-vind@ ao meu blog ❤️

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A 4a Grande História - a História da Escrita

Demos a História da Escrita num desses dias em que simplesmente faz sentido. 

Tínhamos acabado de receber os novos tablets, e o barro também.

Depois da 3a Grande Lição, sendo toda oral, fez simplesmente sentido fazermos esta.

E o que ao início parecia mais uma história, foi-se transformando a partir do momento em que tivemos de sentir como se escrevia nas tábuas de barro sumérias e o quão difícil era (claro que para nós até foi divertido, por ser diferente do nosso dia-a-dia, mas os miúdos começaram a "colocar-se" no lugar dos primeiros escrivães e escrever assim todos os dias... Foi sem dúvida um grande salto para a Humanidade - e acrescento eu, para a burocracia, lol!!!)

Bem, os miúdos adoraram, e as suas tabuinhas fazem agora parte da nossa estante de forma decorativa.

Compreender de onde veio a necessidade da escrita, compreender que foi necessária toda uma evolução de sons, alfabetos, materiais de escrita até aos dias de hoje deixou uma sensação de valorização do ser humano e uma sensação de viagem no tempo em todos nós.

Conversar sobre diferentes povos e que necessidades os levaram a alterar a escrita (sumérios, egípcios, fenícios, gregos, romanos), antes de falarmos deles na História de Portugal, ajudou a introduzir uma noção temporal neles e, quando estes nomes surgiram na História de Portugal, já não foram estranhos para ninguém 😊😊😊

Ao verem os primeiros símbolos sumérios eles acharam tudo muito simples e natural: afinal de contas, lembram desenhos de crianças ☺️ Perceber que derivaram noutros é que foi mais complicado (faltou-nos usar uma cunha como eles). A maioria dos alunos escolheu escrever o 1o tipo de escrita, porque era mais fácil de entender!









Os livros que nos acompanharam neste caminho foram:

Um dos preferidos de sempre: Imagipédia.






Um novo: Maravilhas do Egipto - curso de Egiptologia

Eles acharam curiosos os hieróglifos, mas... Bem, não tiveram tanto tempo nem vontade de os explorar! Queria de escrevessem o seu nome com hieróglifos, mas lá ficará para outra altura, se eles o decidirem e se tivermos ;)












Até breve!

sábado, 9 de janeiro de 2021

A 3a Grande História - A História do Ser Humano

Se tivéssemos de descrever a nossa história como espécie, como nos mostraríamos? Os bons, ou os maus?

Para mim é uma pergunta difícil, com todo o conhecimento que temos vindo a acumular sobre a Humanidade ao longo dos anos, principalmente com o aumento de informação em rede, nas notícias diárias e ao minuto em que nem sempre mostram o nosso melhor. E além disso, também é uma pergunta difícil para as crianças, porque por mais que as tentemos proteger, eles acabam sempre por, volta e meia, se cruzarem com informação que mexe com elas e leva, muitas vezes, à mesma questão: afinal, somos os bons ou os maus?

Então, como responder a esta questão?

Eu penso que a 3.ª Grande História ajuda a começar essa reflexão. É uma história simples, mas traz a aprendizagem mais profunda, penso eu. Abre, pelo menos, essa reflexão.

"Então, de onde vem o ser humano?", "Éramos todos iguais, ou havia seres humanos diferentes, e se havia, éramos todos amigos?", "Se os primeiros seres humanos foram Adão e Eva, então os terceiros seres humanos eram filhos dos filhos deles, ou seja, eram filhos de irmãos?", "Os seres humanos eram como os romanos e lutavam muito?" - Sim, estas eram as perguntas que eles tinham bem preparadas na cabeça deles desde que finalizamos a História da Vida com o aparecimento do Ser Humano. E sim, eu não estava à espera que fossem tão profundas, lol! (esta coisa de levar os miúdos a pensar leva-nos muitas vezes para campos que não imaginamos, sim! Mas uau!!! Que bom que seja assim! :) :) :) )

A história que eu compilei juntou a informação, mais atualizada, do livro da Educação Cósmica da Escuela Viva aqui e a versão mais simples (porque está carregada de mensagens holísticas) de Mário Montessori (versão da AMI). Foi o que fez sentido para mim. 

Então, na primeira parte aproveitei as nossa miniaturas da SAFARI com a evolução do Homem, assim como algumas imagens que procurei na Internet, referenciadas no livro da Escuela Viva.

Aquelas questões voltaram de novo. Somos bons ou somos maus? Concluímos que temos de nos lembrar que, se dantes não tínhamos o conhecimento e muitas vezes a escolha, hoje temos ambas e devemos proceder e educar com essa consciência. (sim, é muito mais trabalho e responsabilidade, sem dúvida. E se isso não é evolução, então não sei bem o que é. Nós somos seres que sempre evoluímos. Com avanços e recuos, mas podemos concluir que sempre evoluímos. Então, educar com consciência parece-me mesmo o próximo passo. Conclusões que chego após as conversas com eles.)

Voltando à história: A história é simples, a mais curta de todas. Fala-nos dos nossos 3 dons como espécie: mãos para trabalhar, cérebro para pensar e resolver problemas, e um grande coração para amar. Esta é a grande mensagem que ficou guardada em nós, alunos e professora. Claro que eles acrescentam sempre mais qualquer coisa a estes dons. E às vezes vêm dizer que alguns animais também são muito inteligentes e resolvem problemas, porque descobrem-no em projetos ou no contato com os seus próprios animais de estimação. O que representa que as interligações entre tudo começam a ser fortes nas suas cabeças. De cada vez que falamos nos dons humanos, após ter contado esta história, eles interligam mais qualquer coisa. É surpreendente 😊😊😊

Mas, claro, não seriam crianças deste 2o Plano se, mal se termina a história, não tivessem imensas perguntas para a próxima (e, na nossa realidade actual, relacionadas com ecologia, saúde, ação humana sobre o planeta...)

Como dizia o Gabriel Salomão, levar as crianças a pensar e refletir com estas histórias pode levar estas crianças a tornarem-se revolucionárias, embora não seja essa a intenção direta. Mas pode acontecer. 

Então, foi após esta história que se tornou fundamental o conto e leitura de histórias de grandes seres humanos, para ajudá-los a compreender que podemos fazer muitas coisas positivas como espécie, e que qualquer um de nós pode ser brilhante fazendo aquilo que gosta de fazer.

Aí ajudaram muito os livros que o nosso Agrupamento nos prendou este ano:


Desenho de uma aluna após a leitura do livro da Ella Fitzgerald
Desenho de uma aluna após a leitura do livro da Ella Fitzgerald
Outro desenho de outro aluno numa ficha de leitura.

Estes livros já estão a ser lidos desde o início do ano letivo (lemos Montessori, Darwin, Galileu), mas penso que só após esta história eles os começaram a apreciar mais. A forma como absorveram Da Vinci foi surpreendente. Mas talvez o tenha sido porque temos a sorte de ter um aluno que é um pouco como foi Da Vinci na turma. E, para esse menino, que tem claramente uma forma de ser e pensar diferente, foi incrível ver alguém que era um pouco como ele. Foram bonitos momentos em que uns e outros foram capazes de apreciar características pessoais de uns e de outros com admiração e carinho. São um grupo muito unido, e estou certa que estas reflexões os tornaram mais unidos ainda, superando inclusive preconceitos e barreiras (crianças não nascem preconceituosas, todos sabemos.)

A riqueza da compreensão do nosso lugar do mundo, após o conhecimento da 1a e da 2a Grande Histórias e agora com a 3a Grande História e as mini-biografias, tem sido imensurável! Não me lembro de alguma vez ter tido alunos tão despertos e conscientes como estes, antes de aplicar Montessori no 1o Ciclo. Embora não me devesse surpreender, surpreende sempre. E depois, os próprios conteúdos programáticos apaixonam-nos como nunca vi:



Trabalhos de Projeto sobre o corpo humano em construção

Então, afinal, somos os bons ou somos os maus? Talvez às vezes sejamos os bons, e outras vezes sejamos os maus. O que interessa é que tenhamos cada vez mais consciência do que é certo e errado, e essa consciência constrói-se, precisamente, neste 2.º Plano. E não se constrói com alguém a dizer-nos como é ser bom e o mau, mas sim com alguém que nos coloca as perguntas certas para refletirmos sobre as respostas e construirmos as noções de bom e de mau, e talvez a compreensão de que todos somos, ocasionalmente, também os maus, e que isso faz parte de se ser humano. E que com isso vêm as consequências, tal como vêm quando somos bons. Errar nesta idade é bom e recomenda-se, porque, se esse erro for bem acompanhado e bem direcionado, pode ser uma das mais importantes aprendizagens das crianças. 

Mas os livros de biografias também ajudam a essa perceção. Conforme se vai lendo estas historinhas, eles vão-se apercebendo de imensos valores humanos que são importantes: que errar é humano, que é importante persistir, que é normal as pessoas nem sempre se sentirem seguras com as suas ideias, que por vezes acontecem coisas nas vidas das pessoas que as impedem de conseguir ir mais longe, ou à velocidade que gostariam de ir... Tantas boas mensagens. Mas, claro, a mais forte é sempre a de que devemos persistir e ter coragem de seguir o nosso caminho, de divulgar as nossas ideias, de não ter medo de falhar, porque muitos já o fizeram antes de nós e foi exatamente assim que a nossa espécie evoluiu até ao presente.

Os meus alunos escolheram acreditar que os 1.ºs seres humanos eram como os bebés: sobrevivem e fazem sem muita noção do que estão a fazer. Concluíram que o ser humano foi, ao longo da sua História, crescendo e ganhando novas noções e visões sobre tudo, evoluindo. E que hoje temos mais coisas e oportunidades, mas também mais consciência do que nunca antes, e por isso devemos agir em conformidade com essa consciência! Simples assim :)

Ah, preciso acrescentar algo interessante: os meus alunos decidiram todos usar máscara sempre, mesmo não sendo obrigatório. Tomaram essa decisão por conhecimento da situação actual e por saberem que assim protegem-se melhor e protegem os outros. Se isto não é consciência a ser aplicada, então não sei o que é. ❤️❤️❤️

Até breve!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Avaliações, os dias que mais custam

Das coisas que menos gosto de fazer é avaliar = dar notas escolares.

Estes dias de reuniões de avaliação são dos mais difíceis dias da minha profissão. Além de cansativos, morosos, burocráticos, são os dias em que deixamos de ver os nossos alunos (os seres vivos únicos e especiais, as crianças, os sorrisos, as enormes ou as mais pequenas evoluções) para apenas os vermos como números/expressões de avaliação. 

E frequentemente me pergunto "Para quê?"

Avaliar é bom. É algo positivo que fazemos todos os dias, provavelmente, sempre que tomamos qualquer decisão e avaliamos as consequências das mesmas. E por vezes temos ainda um feedback dos outros que connosco convivem, que nos ajudam a orientarmo-nos e a ajustarmos o nosso caminho.

Mas ninguém de fora com um jugo "superior" (que sabe pouco da nossa vida, e muito menos sabe tudo sobre as dificuldades que passamos todos os dias) deveria vir escrever num qualquer relatório ou em fichas de avaliação bitrimestrais "Suficiente". "Muito Bom". "Insuficiente" nestas aprendizagens da tua vida, de cada vez que tomamos essas decisões. Tipo, já não basta a dificuldade de passarmos por elas e nem sempre nos sentirmos preparados ou a saber bem o que fazer, ainda temos que levar com estes rótulos na cara.

Eu entendo a visão de que as mesmas são uma orientação indicadora de se estás a ir por um bom caminho ou se precisas de trabalhar mais para acompanhares o ritmo que te é imposto (na escola, ritmo imposto por um currículo igual para todos como se todos fossem iguais...). Para algumas pessoas são ainda um "prémio". Mas será mesmo necessário ser assim?

Como professora, dou várias indicações e possibilidades de descoberta e evolução aos meus alunos, TODOS OS DIAS e VÁRIAS VEZES AO DIA. Acredito que praticamente todos os professores do 1o ciclo o fazem, dos outros ciclos provavelmente também, e só não o farão mais e melhor devido à quantidade BUROCRÁTICA astronómica que nos tira energia e força. 

Todos os dias e a todos os momentos eles sabem o que estão a aprender, lhes são feitas perguntas variadas sobre os temas, são feitos vários exercícios diferentes e (com sorte), motivadores da aprendizagem, são feitas revisões... E crianças que sabem o caminho que estão a fazer, que sabem o esforço que estão a aplicar nesse caminho, não deveriam ser comparadas seja com o que for. Porque sejamos sinceros, ao avaliarmos com rótulos, estamos sempre a comparar os nossos alunos a um aluno imaginário perfeito que aprende tudo o que ensinamos exatamente no momento em que ensinamos (como se todas as crianças estivessem despertas de forma igual para todos os temas de aprendizagem pré-definidos por qualquer Ministério) e aplica esses conhecimentos com rigor em fichas de avaliação e outros trabalhos (se tiver a sorte de ser avaliado por outros trabalhos) com absoluta perfeição. Excepto crianças sobredotadas ou quase, quem é esse aluno? 

Então, aí entra também a subjetividade do professor. Porque nós vemos os percursos deles. Nós vemos a evolução, o ritmo, as condicionantes e as coisas a favor. E elas são tantas e tão distintas que NENHUMA NOTA que a gente dê é verdadeiramente justa. 

Quem somos nós para comparar o filho da mãe solteira que sozinha se esforça já tanto para pôr o jantar na mesa? Da empregada fabril que chega a casa cansada do som das máquinas das 8 horas de trabalho e que só quer silêncio? Da mãe com vários trabalhos sazonais só para trazer dinheiro para casa? Do pai que, tendo sido ele próprio maltratado na infância, nem sempre consegue fazer melhor pelo filho mas está a esforçar-se? Da mãe com algum problema de saúde, ou que trata de alguém com problemas de saúde, ou até da própria criança com problemas de saúde? Da família com posses e regalias mas que esconde problemas emocionais enormes? Ou até da própria família com posses e regalias e sem problema nenhum. 

Como podemos nós comparar? Como podemos nós classificar? Como podemos colocar todas estas crianças num pote e classificá-las justamente? A resposta é: não podemos. Por muita noção que possamos ter duma ou outra situação familiar, na maioria das vezes nem sequer sonhamos ou imaginamos o que se passa realmente. 

Por isso é que, para mim, a escola deveria ser um lugar bonito, feliz e seguro para as crianças aprenderem, estarem e acima de tudo, serem felizes nela. 

A escola deveria responder mais aos verdadeiros desejos e ímpetos de aprendizagem destas crianças, permitir a descoberta constante, com professores a orientar e a ajudar a manter o foco. Uma escola-museu, uma escola-oficina, uma escola-casa. Um lugar onde eles possam ser felizes.

E que avaliação tivesse apenas o papel que a mesma tem na vida: uma orientação para nos ajudar a delinear melhores caminhos, a trabalhar mais afincadamente nos nossos projetos, a elevar a nossa auto-estima e a nossa alma...

Porque sejamos sinceros: ao fim do 1o.ciclo, quantas crianças ainda têm aquele brilho nos olhos? Aquele verdadeiro amor próprio que as caraterizava nos primeiros meses do 1o ano (antes de levaram com a "bofetada" de conteúdos)? Quantas crianças sabem realmente alguma coisa que vá de encontro com os seus reais interesses? E o que é que isso, mesmo isso, lhes interessa, se vão ter de levar com um "Suficiente", "Muito Bom" ou "Insuficiente" por causa disso? Será que vale sequer a pena tentar?

Sabemos que muitas crianças se "perdem" pelo caminho exatamente por causa desta comparação constante, que não respeita os seus ritmos pessoais e tantas vezes as suas verdadeiras capacidades (que normalmente estarão fora da oferta educativa que os currículos escolares podem ter). E ainda impera a ideia de que todos eles têm de ser bons ou muito bons a tudo, ou não estão a aprender as competências necessárias para seguir este caminho escolar pesado, triste e cheio de conhecimentos inúteis que nunca mais serão usados na vida.

Repare-se que eu não sou contra o conhecimento. Saber não ocupa lugar e as crianças respeitadas realmente adoram aprender, sempre. Crianças respeitadas são ávidas de conhecimento, querem mais e mais, quando se vai de encontro com os seus interesses. Mas impor-lhes conhecimentos mastigados e vomitados por um professor, definidos anteriormente por um ou uns quantos srs. doutores numa secretária e por uma ordem pré-definida para o tal aluno imaginário perfeito, não deveria ser o caminho a continuar a seguir. Já se vê melhorias com as medidas tomadas pelo actual Ministério da Educação. Mas tem de se definir uma outra forma de avaliação, pôr maior peso nas aprendigens do dia-a-dia, e parar de valorizar tantos os testes, exames, etc (por mim até poderiam desaparecer). 

Mas, como lidar com as ansiedades dos pais? Cada vez percebo mais que as avaliações existem como existem por causa desta necessidade dos pais de saber que notas têm os filhos. Eu entendo. Mas não seria melhor, por exemplo, libertar os professores de tanta burocracia e dar-lhes tempo para atender e dar um feedback mais contínuo aos pais, sem ser necessário estar sempre a pressionar as crianças?

Por causa dos adultos, mais uma vez, são as crianças que sofrem desnecessariamente. Levam com rótulos que atacam a sua auto-estima numa altura em que as aprendizagens que têm de fazer são difíceis já por si, destroem a sua vontade natural de aprender, os enche de ansiedade em idades em que deveriam ser felizes para se tornarem adultos calmos, resilientes, gentis...

Então, a meu ver, a solução seria por aí. Libertava-se os professores da burocracia e permitia-se tempo para um maior diálogo escola-família. Uma acompanhamento mais tranquilo e pessoal entre todos. Feedbacks mais frequentes que permitem respostas mais atempadas e ágeis. 

Mas claro que tudo deveria passar por um currículo mais aberto e por turmas mais reduzidas, exigências pedidas pelos professores à tutela desde que me lembro de ser professora.

Trabalho numa escola de aldeia, com poucos alunos, e acumulando anos de escolaridade na mesma turma. Mas vejo aqui muito claro que a relação escola-família é muito mais próxima e fácil, mesmo com a burocracia. Só não é melhor por causa desse excesso de papéis. Se fosse assim em todo o país, estou certa de que estes rótulos estúpidos deixariam de precisar de existir.

Claro que também teria de se fazer um trabalho com as famílias para ajudar a entender a todos o que é o mais importante. O nosso país ainda baseia a sua ideia de um bom percurso escolar como aquele em que as crianças têm de sofrer, repetir muito até aprender, muitos tpc, muitas fichas e ainda muito trabalho nos manuais... Afinal, no tempo de Salazar até se batia com as cabeças dos miúdos no quadro a ver se a coisa entrava... mas por todo o mundo se prova de que isso claramente não é preciso. Deixou de se bater nos miúdos e, surpreendentemente, eles não deixaram de aprender. Por isso, se se deixar finalmente de lado o método tradicional de aprendizagem que tem mais de 300 anos e se se abraçar o séc. XXI em que nos encontramos, com aprendizagens mais efetivas baseadas em estudos científicos, neurociências, materiais manipuláveis, ambientes preparados fisicamente e tecnologicamente e se se seguir os interesses das crianças, supreendam-se: as crianças vão continuar a aprender, mas no seu tempo histórico. Para o seu futuro e não para o nosso passado. 

Não é deixar as crianças fazerem o que querem. Não é a máxima que se ouve por aí "deixar as crianças serem crianças". É deixar as crianças serem os adultos de amanhã, donos do seu caminho e do seu futuro, num ambiente que favorece quase automaticamente a aprendizagem. Orientando-os, mas com a humildade de ver quem eles são e não com o orgulho de que tudo sabemos. Porque não sabemos.

Eu sei, tantos me dirão que são ideias utópicas. Mas, na verdade, nunca estivemos tão próximos. Em muitas escolas já se observa e comprova estas teorias, a ciência apoia-as e as crianças que dessas escolas saem tornam-se adultos mais conscientes, com maior capacidade cooperativa, maior aceitação da diversidade, com total autonomia no seu trabalho e capacidade critativa e construtiva, auto-estimas saudáveis e capacidade de conexão em rede como ninguém. Em oposição aos alunos que saem do sistema actual desmotivados, sem esperança, auto-estima baixa e um bolso cheio de conhecimentos antiquados que pouco os ajudarão realmente no mercado de trabalho (e esta última observa-se mesmo que tenham boas notas).

Essas escolas são as alternativas: Montessori, Waldorf, Reggio Emília, Inteligências Múltiplas, Inteligência Emocional, Escola da Ponte, Comunidades Educativas... Todas elas provam o mesmo: seguir os seus interesses é a diferença que faz a diferença.  

Por isso, rótulos para quê? Avaliações rotulativas para quê?

Sim, adivinharam: servem apenas para servir os adultos, mas não as crianças.

Até breve.