quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Como estamos a fazer: A Educação Cósmica


Esta semana finalmente tive coragem para abordar a Educação Cósmica Montessori. Não, claro, tal como a mesma seria abordada com crianças que já tiveram educação montessoriana dos 3-6, mas adaptada aos meus alunos e à sua realidade específica.

E foi uma experiência muito interessante e incrível!
Eu não sou Guia Montessori, gostaria muito, mas nunca dispus do tempo nem dinheiro para fazer essa formação. No entanto, sempre que aplico Montessori do que leio e aprendo nos livros de Maria Montessori e outras leituras aqui e ali (Gabriel Salomão do blog Lar Montessori, Sylvia Sousa do Mindful Montessori e Sara Chong do Educating for Peace têm sido os mais recorrentes) fico surpreendida com o facto de observar resultados tão incríveis. A faixa etária dos 6 aos 12 anos é abordada no livro de Maria Montessori "Educar para as potencialidades humanas".

Bem, voltando ao que fizemos, eu e os meus alunos. Relembro que somos um grupo que vai desde o 1o ao 4o ano, logo, muitas vezes o que seria feito apenas para uma faixa etária acaba por ser para todos, pois não os vou impedir de ouvir e observar tudo o que é feito!

Então, comecei por questionar os pequenos sobre como achavam que tudo isto tinha começado! Gosto e acho que devo questionar sempre para entender em que nível de conhecimento estão, pois as suas experiências pessoais também fazem parte do seu processo de crescimento, e nestas idades, aprende-se muito com os outros (é uma idade muito sociável, como já observara Maria Montessori).

Obtive respostas muito giras, algumas muito inocentes e inclusive divertidas!

"Tudo começou quando eu nasci!" :)
"Tudo começou com os dinossauros!"
"E depois veio um meteorito e matou todos os animais, todos mesmo!"

Bem, voltei a questionar - então e antes dos dinossauros?

Demonstraram aquele ar do "nunca tinha pensado nisso!"

E foi aí que percebi que estava na altura de começar a alimentar a imaginação destas crianças, falando sobre o início do Universo, tentando despertar neles imagens mentais que nunca viram/imaginaram/pensaram antes, usando para o efeito alguns materiais um pouco diferentes para ajudar à explicação e manter a atenção :) Maria Montessori diz no seu livro "Educar as Potencialidades Humanas" que crianças destas idades adoram histórias já com algum nível de abstração, desde que apoiadas com modelos adequados que ajudem a encorporar as ideias e a imaginação.

Esta ideia vi uma vez numa foto de uma Formação do Jardim das Descobertas.

Um balão cheio de elementos que representam pequenos elementos que depois se tornarão estrelas, planetas, poeiras, buracos negros...

Começa-se a falar daquela pequena partícula que surgiu do nada, mas que começou a ficar cada vez mais tensa (e vai-se enchendo o balão com os elementos lá dentro), mais tensa (enche-se mais um bocadinho e abana-se as "partículas"), mais tensa... Até que PUUUUMMM! Explodiu!!! E as partículas espalharam-se pelo chão, entre eles, numa proporção não perfeita de mais elementos junto ao local da explosão e menos em volta. (No momento da explosão claro que eles taparam ouvidos, alguns encolheram-se, mas ninguém deixou de olhar a ver o que ia acontecer!!! :) :) :) )
(foto das partículas após a explosão)

A partir daí começamos a nomear esses elementos, e eles começaram a perceber o que era estrelas, e que em volta das estrelas existem planetas que percorrem orbitas em volta delas.

Um conjuntos de estrelas e outros astros é uma galáxia, e falamos da nossa galáxia, que se chama Via Láctea, cheia de estrelas e que, num dos seus "braços", se encontra a nossa estrela, o Sol.

Por esta altura, as expressões e as reações dos pequenos eram de puro espanto! Ao início revelaram-se um público algo difícil, mas por esta altura estavam incrivelmente concentrados e espantados! :)

Neste momento, usei finalmente as imagens que fiz e estão aqui para download. Recomeçámos só para reforçar esta viagem de algo tão enorme para nós, seres tão pequenos mas tão especiais e únicos <3

Universo, Galáxias, a nossa galáxia Via Láctea, a nossa estrela (o Sol), o nosso Sistema Solar, os seus planetas, a nossa Terra, a Lua que nos acompanha.

Aqui surgiram questões sobre alguns planetas, que tentei elucidar o melhor que consegui, nomeadamente número de Luas, como é que os cientistas sabiam disso, como descobriram, e um dos pequenos lembrou-se de termos lido ano passado um texto sobre Galileu Galilei.

Aqui, fui buscar o esquema de Educação Cósmica que fiz para eles, e relembramos: Sistema Solar, Planeta Terra, Continentes e Oceanos (que eles já tinham aprendido no ano anterior), Europa, Portugal, Distritos (eu do Porto, eles de Beja), o nosso Conselho, a nossa Freguesia, a nossa rua, a casa de cada um, a família de cada um, e finalmente cada um. Seres únicos, maravilhosos e irrepetíveis. Tão únicos como cada cubinho da Unidade (relacionando isto com um material da nossa Matemática) - ideia de Mercedes Urbiola, uma guia Montessori com quem fiz a minha primeira formação e nos fascinou a todos com o quão holística pode ser a educação - ideia provavelmente também de Maria Montessori.

E eles todos sorriram. Com aquele sorriso de saber perfeitamente que são únicos, maravilhosos, mas espantados por serem também irrepetíveis :)

Noutro dia conversamos sobre a Terra, a sua idade, como se formou. Relembramos o Big-Bang, as galáxias e os astros, aproveitamos para fazer exercícios de Consciência Fonológica com os mais pequenos e as palavras utilizadas.

Claro que comecei por perguntar como eles achavam que a Terra se tinha formado! Mais uma vez, respostas giras como só as crianças nos dão!

Mas lá fomos avançando com a teoria da aglomeração, das camadas da terra, da formação dos vulcões, seus produtos (vapor de água que fez chover e criou os oceanos, CO2 que ajudou a aquecer o planeta e permitiu que depois surgissem os primeiros seres que derivaram em dois, as plantas e os animais), e com a ajuda duma revista dum aluno sobre dinossauros que tem um mapa do tempo, fomos seguindo os acontecimentos da Vida na Terra por ela.

Relembramos a experiência do vulcão que fizemos no ano anterior, sendo que desta vez quem foi adicionando os ingredientes foram os mais pequeninos, cujo olhar de espanto foi super giro e fofo! :)

Mas desta vez acrescentou-se a esse conhecimento que é a lava arrefecida que depois vai formar rocha, e que essa rocha forma ilhas no meio dos oceanos, e relembramos a letra i de ilha para os nossos pequeninos. Entretanto, essa rocha foi aumentando, aumentando com várias camadas de lava, e formou continentes (ia falar na Pangeia e outras fases de junção de continentes idênticas, mas já não deu, eles ficaram muito entusiasmados com a experiência do vulcão e quiseram repetir, lol! :) )

Entretanto, falamos e nomeamos os dinossauros, revimos seu tamanho, os tipos de alimentação (herbívoros e carnívoros), o seu trágico final e a conquista da terra pelos mamíferos e restantes animais mais pequenos que sobreviveram. Eles adoraram repetir os nomes dos dinossauros, crianças nesta fase adoram palavras novas e grandes, quanto mais difíceis melhor!!! É bom para trabalhar a oralidade e mais uma vez a consciência fonológica!

Finalmente, revimos (porque da outra vez houve uma aluna muito interessada na evolução do Ser Humano) algumas fases de desenvolvimento do ser humano com a ajuda destas figurinhas que têm estado na estante e com que os pequeninos adoram brincar.
É engraçado como alguns dos pequenos já conseguiam enumerar as diferenças entre eles, nomeadamente o osso na mão do austrolopitecus (uso de ferramentas rudimentares), o homo habilis e a capacidade de manipular pequenos utensílios (a miniatura tem um cajado e uma pedra com forma de ponta de seta nas mãos), o homo erectus com o controle do fogo e um cérebro bem maior que o anterior (cerca de 50%,) o homo sapiens com um cérebro já do mesmo tamanho que o nosso, e o homo sapiens sapiens que somos nós.

Aproveitei já para falar também dos Nómadas e das Comunidades Agropastoris (e o grande salto que foi passar duma para a outra). Os pequenos identificaram muito bem as características da segunda pois vivemos numa aldeia e eles vivem, numa base diária, a realidade agro-pastoril (e adoram :) )

Bem, entretanto um dos pequeninos adormeceu!!!! (:D), mas os mais velhos estavam muito entusiasmados com o que aprenderam! :) 

Ainda assim, uma das garotas ainda voltou a referir que gostava de saber quem foi o 1o homem! Pensamos sobre o assunto, relembramos os ancestrais do Homem, dos macacos e ela finalmente percebeu :)

Por fim, aproveitei apenas para fazer uma comparação entre o calendário de contas Montessori e o calendário cósmico, sendo que 1 de janeiro é quando ocorre o Big Bang e onde o Ser Humano só aparece na última hora do dia 31 de dezembro. Eles adoraram esta comparação! Já tinham ficado com a ideia de que somos mesmo pequeninos na escala do tempo, mas agora ficaram com uma percepção mais visual e física! :) Nunca imaginei que achassem tão interessante. Claro que tudo isto é mais entusiasmante quando é colocado na forma de jogo  (neste caso usei o frio, morno e quente), em que eles diziam em qual mês achavam que tinha surgido o Ser Humano, e ao mesmo tempo íamos relembrando os meses do ano! :)

Estou a adorar dar aulas assim, e ver este projeto a ganhar vida e a interligar todos os conteúdos de todos os anos de escolaridade. Claro que os pequeninos do 1o ano não captaram tudo, mas os do 4o e 3o estavam realmente entusiasmados! Os do 2o ano pareceram também atentos e interessados, e volta e meia faziam observações bem pertinentes :) 

Está a ser um processo lindo de se ver, porque durante as aulas "normais" vão surgindo palavras e termos que os alunos vão interligando e que lhes vão fazendo mais sentido. Por exemplo, estamos também a trabalhar geometria e esta interliga maravilhosamente com os astros, tendo sido, por exemplo, bem mais fácil aos do 3o ano encontrar exemplos de esferas em oposição a superfícies esféricas :) E, claro, já ninguém estranha quando surge o nome dum continente, dum oceanos ou dum país num texto, sendo que vão logo ou ao mapa ou ao globo procurar onde é esse país. E os mais velhos já me vieram contar, orgulhosos, que estiveram a dizer aos mais pequenos onde ficava o nosso país no globo e no mapa no seu tempo de trabalho de escolha livre! :)

Ah, e se nos primeiros dias fiquei um bocado apreensiva quando eles preferiam apenas ver livros e pouco ou nada tocavam nas estantes, esse medo foi-se com a nova capacidade conquistada de explorar os materiais individualmente ou em pequenos grupos (certamente ajudada pelo facto de já lhes ter apresentado alguns ao longo da evolução da exploração dos diferentes conteúdos curriculares) pelo que, gradualmente, já se está a recuperar o fantástico estado de Normalização que foi conquistado quase no final do ano passado!

Continuemos <3




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