quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Que tipo de letra usar? - Reflexão + Atualização da Série Rosa

 "O meu filho não se interessou por letras." - disse eu há dias, crente que deveria ter falhado em alguma coisa que nem eu sabia bem o quê.

Pois bem, ao fim destes tempos sem fazer atividades com ele e, por isso, mais tempo para permitir que o Universo fizesse o seu trabalho e me mandasse, ao longo dos dias, sinais que me ajudassem a compreender que caminho seguir, percebi.

Estas coisas acontecem-me muito. Mas só o tempo e a idade me mostraram que às vezes temos mesmo de esperar para que as respostas surjam, e devemos estar atentos a elas quando acontecem. Podem vir num conflito, na voz duma desconhecida, na voz duma colega, mas na maioria das vezes vem da criança, claro! 

Ele sempre se interessou por livros, mesmo nestes tempos em que "só queria brincar". Pedia para ler os 3 livros diários do antes de dormir, e pedia para usar o dedo na leitura de algumas palavras e dizê-las muito devagar (sons). O livro que me fez o primeiro plim foi "O coala que foi capaz". Todas as noites: ele pedia para fazer esse movimento nas palavras que se encontram escritas em maiúscula de imprensa - só essas.

Entretanto, numa ida à escola, apercebi-me que ele não tinha vontade de escrever o nome. Achei aquilo estranho. A educadora informou: ele não faz aqui aquilo que faz em casa. Não percebi o que queria aquilo dizer, porque ele em casa nunca escreveu o nome dele. Mas mais um ou dois acontecimentos fizeram-me entender que, embora ela possivelmente mo tenha dito com um sentido, o sentido que eu tinha de tirar dessas palavras seria outro completamente diferente (ou não).

Entretanto, uma mãe de 4 filhos no Facebook, que agradece o material que criei da série rosa, mas que usa as letras maiúsculas de imprensa porque sempre seguiu o trabalho da educadora dos filhos, que usa maiúscula de imprensa... Bem, provavelmente já estão a chegar à mesma conclusão que eu.

E o plim final chegou na voz da minha colega M., ao contar-me a experiência da sua filhota mais velha, que entrou no 1o ciclo a ler maiúsculas de imprensa e que viu todo o seu caminho escolar grandemente facilitado por isso - e que ninguém a ensinou a ler.

Então, onde foi que eu errei?

Desde sempre me apercebi que aqui, onde eu moro, uma pequena aldeia do Alentejo, as crianças crescem praticamente sem contacto com letras. Números ainda vão vendo, nos sobreiros, sobretudo. Mas letras... Há um café ou outro com letreiro, há as placas da localidade e das próximas, e é tudo. Nos nossos passeios diários vai com sorte se passarmos pelo letreiro dum café. 

A grande fonte devem ser os livros, e talvez um outro filme com legendas na TV - que vão sendo cada vez menos para as crianças, que encontram hoje todos os desenhos animados dobrados.

Mas aqui a Biblioteca mais próxima está a cerca de 50km, e as famílias nem sempre conseguem comprar os livros que gostariam. Bem, mas este facto não se aplica ao nosso caso, por isso vou considerá-lo um factor não essencial para nós.

Entretanto, no início de março, fiz formação em Escrita e Leitura em Montessori, e convenci-me, mais uma vez, que o caminho estava em continuar a providenciar letra manuscrita ao meu filho - desde que eu desse o exemplo, escrevendo muito à sua frente, e fosse fazendo os jogos de sons e apresentação das letras, tudo correria bem.


Não fossem dois fatores fundamentais que por vezes nos esquecemos tanto:

- o Ambiente em que eles se inserem grande parte do dia;

- o tempo que temos, como família, disponível para esse tipo de trabalho.


Ou seja, idealmente, e ainda acredito nisso, trabalhar com letra manuscrita seria o ideal - para quê aprender outra forma de escrita, se aos 6 anos lhe vai ser exigido ser capaz de a escrever? O tempo joga a favor da criança mas - conclusão disto tudo - desde que o processo casa-escola seja feito através do método Montessori de Escrita e Leitura.

No entanto, ele passa a grande parte do seu dia no Jardim de Infância da nossa escola. E lá todo o material está em maiúsculas de imprensa.

E em casa tem a mana com quem brincar, chega cansado da escola e se fizer uma atividade estruturada por dia já é muito (e quando acontece porque, lá está, ele quer brincar e descansar). 

Então, veio esta época natalícia e decidi ganhar coragem para voltar a apresentar-lhe letras, desta vez as do seu nome e da irmã em maiúscula de imprensa. E ele rejubilou por conseguir 1.fazer e 2.perceber. Porque todos os dias ele contacta com o seu nome na escola em maiúsculas de imprensa. Todos os dias ele contacta com o nome dos colegas em maiúsculas de imprensa. 

Estar a apresentar-lhe dois tipos de linguagem gráfica estava a ser demais para ele, desmotivando-o. Sim, eu sei, o conselho de todos os montessorianos é o de usar o tipo de letra que é usado na escola, mas como estivemos em confinamento eu convenci-me que, nesse tempo, poderíamos fazer diferente, e até tivemos momentos bonitos em volta da cursiva.  (De referir que em tempos, quando lhe coloquei diferentes tipos de letras e lhe perguntei qual ele gostaria de aprender, ele assinalou a cursiva manuscrita. É sem dúvida um tipo de letra bonito 🙂🙂🙂 )

Mas voltando à vida normal, percebi que não vale a pena lutar contra a corrente. Na verdade, pode ser muito improdutivo, quando se trata de crianças pequenas, mesmo que acostumadas a realizar tarefas e atividades em casa.

Mas claro, isso depende de cada contexto, de cada família. Sempre usei essa máxima na gestão das questões que surgiam no grupo Montessori Portugal. Mas, desta vez, quase a esqueci de usar para mim. 

Ainda bem que o Universo tem uma forma bonita e gentil de nos mandar mensagens 🙏🙏🙏






Entretanto, atualizei a Série Rosa, acrescentando MAIÚSCULAS DE IMPRENSA e invertendo as cores, para irem de acordo com os alfabetos que por aí se encontram.

Aqui está:


Assim, é mais útil para toda a gente ☺️☺️☺️

Até breve ❤️💗❤️💗

6 comentários:

  1. A série rosa é espectacular. Obrigada!
    Mas tive de escrever à mão com letra impressa maiúscula quando estava a apresentar.
    -Mae não gosto destas letras, faz das outras.
    -mae

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    1. É super complicado definir que tipo de letra usar! Em breve, quando tiver tempo, vou tentar adicionar a imprensa maiúscula à série rosa, porque cá em casa é definitivamente o que está a resultar :)
      Grata pela informação :) <3

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    2. Rute, já atualizei, está no final deste post :)

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  2. Que bom chegar aqui. Cá em casa estamos um pouco assim...cursiva (como nos convidam a usar) e imprensa...
    O filho reconhece e escreve imprensa e eu com um pouco de culpa. Há pouco tempo decidi confiar na criança... e tudo se desenrola com muito mais serenidade. ��

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